quinta-feira, 9 de outubro de 2008

[gznacion] Qual é o objectivo da normalizaçom lingüística?

Artigo de opiniom publicado em Gznacion.

Passárom já mais de 25 anos desde que foi oficializado ou, por melhor dizer, cooficializado o nosso idioma numha boa parte do território nacional, o que forma a Comunidade Autónoma da Galiza. Ainda que seja só por via do contraste entre a situaçom deste lado da fronteira autonómica e do outro (onde também sa fala galego), deveremos admitir alguns avanços nestes anos.

No entanto, o estatuto oficial trouxo outros importantes recuos, que indicam nom tanto a importáncia relativa das medidas legais como, sobretodo, a necessidade de umha política clara que oriente o processo normalizador. Quer dizer, é necessário aquilo que nunca foi aplicado na Galiza por nengum dos partidos institucionais, sem excepçons.

Sabemos que as línguas cumprem funçons sociais e é a partir delas que ocupam um lugar ou outro numha dada comunidade. O espanhol cumpre-as todas nos territórios maioritariamente hispanófonos da Península, por isso é a indiscutida língua nacional. Porém, em Porto Rico, pugna funcionalmente com o inglês, que as instituiçons federais estado-unidenses aspiram a converter, num prazo prudencial, na língua principal. Nas Filipinas, o espanhol passou de ser língua de poder durante três séculos, a ficar progressivamente abandonada em favor da nova língua colonial, o inglês, e do tagalo, perdendo falantes e, desde 1973, também a oficialidade que desfrutava nessa ex-colónia asiática.

Mas, voltando à pergunta inicial, quais som os objectivos actuais em relaçom ao papel social que corresponde ao galego? O galego funciona como segunda língua, reconhecendo-se aos habitantes da Comunidade Autónoma o direito a usá-lo, enquanto o espanhol é objecto de deveres.

É verdade que costuma vestir-se essa realidade com planos normalizadores que estabelecem metas ‘ambiciosas’ como um reparto a 50% nos usos sociais do galego e do espanhol, mas esses som objectivos falsos ou irrealistas, na medida que sabemos que nengum país conseguiu nunca um equilíbrio semelhante. Conhecemos, certamente, comunidades em que a língua própria conseguiu virar a situaçom de marginalidade imposta e temos, inclusive, casos em que esse facto aconteceu em detrimento da língua de poder por excelência no capitalismo globalizado.

Assim, o inglês passou no Quebeque de língua imposta e em ascenso a segunda língua, em favor da histórica e maioritária, o francês, por obra de umha política que marcou objectivos realistas e pujo os meios para avançar na direcçom certa.

Ali, após décadas de políticas comparáveis às hoje vigorantes na Galiza, que estabeleciam impossíveis objectivos igualitaristas enquanto o inglês avançava imparável, umha maioria social determinou a assunçom do francês como a língua primeira e oficial que hoje é.

Também na Galiza actual enfrentamos o desafio histórico de continuarmos a deixar esmorecer o galego, como redundante código administrativo, ou começarmos a reconhecer a necessidade de marcar uns objectivos realistas para a recuperaçom da sua hegemonia funcional.

Isto, que tanto medo dá a alguns, supom reconhecer abertamente que aspiramos à oficialidade única ou principal do galego, como objectivo de umha política lingüística que nos permita caminhar colectivamente na direcçom certa. O confusionismo actual da cooficialidade subalterna, já descrita por Carvalho Calero nos anos 80, só fortalece o papel do espanhol na sociedade galega, porque a sua hegemonia sim é clara e efectiva.

A quem nos acuse de sermos nós os irrealistas, diremos que a experiência histórica nos indica que o verdadeiramente utópico é pensar que, nas coordenadas actuais de dependência política e bilingüismo harmónico, vai ser possível que o galego recupere o protagonismo que lhe corresponde na sua naçom de origem.

Claro que, dado que a politizaçom das línguas é um facto, provavelmente nom chegue com marcar só objectivos lingüísticos, devendo estes ir acompanhados do projecto soberanista que corresponderia a um nacionalismo maduro. Mas esse é tema para umha outra reflexom que, talvez noutra ocasiom, poda retomar nestas mesmas páginas.

Maurício Castro (09-10-2008)

Fonte: Gznacion e Novas da Galiza.

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